06 dezembro, 2009
Desencantamento futebolístico
A leitura apresentada é muito similar à definição de Sérgio Buarque de Holanda sobre o "homem cordial". A cordialidade se refere à dificuldade do brasileiro de lidar com questões sociais ou políticas de modo racional, de considerar a esfera pública como algo impessoal. A cordialidade é um traço brasileiro de formar sua visão de mundo com base na paixão, logo em uma subjetividade fatalmente egocêntrica e egoísta.
O futebol atualmente se organiza de modo racional, como uma empresa moderna. E como qualquer empresa, há interesses em jogo, principalmente fora do campo de futebol.
05 outubro, 2009
Axel Honneth em Porto Alegre
Nascido em Essen (Alemanha), em 1949, tornou-se professor de filosofia na Universidade J. W. Goethe em Frankfurt em 1996 e desde 2001 é diretor do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (ou, mais conhecidamente, a "Escola de Frankfurt"). Seus escritos concentram-se na área da filosofia social, política e moral, formando um ambicioso programa de pesquisa voltado tanto para a explicação teórica quanto para a compreensão crítico-normativa das relações de poder, reconhecimento e respeito nas sociedades capitalistas modernas.
Nos dias 29 e 30 de setembro e 1º de outubro de 2009 foi realizado o "IV Simpósio Internacional sobre a Justiça", organizado pela PUCRS e pelo Goethe-Institut Porto Alegre. Eu estive por lá e quero registrar, aqui, alguns pontos importantes das palestras.
Foram três dias do mais profícuo debate intelectual. Nos dois primeiros dias, foram realizadas leituras por Honneth seguidas de debates com interlocutores. O que mais agradou o público, creio eu, foi o diálogo do segundo dia, entre o professor Honneth e Hans-Georg flickinger. Isso inclusive obrigou o primeiro a reconsiderar alguns pontos inprecisos da "Teoria do Reconhecimento". Honneth resgata o conceito de "luta por reconhecimento" do jovem Hegel. O propósito da teoria é dar conta da "gramática" dos conflitos e da "lógica" das mudanças sociais, tendo o objetivo mais amplo de explicar a "evolução moral" da sociedade.
No artigo de Denilson Luis Werle, publicado na revista "Mente, Cérebro & Filosofia", nº 8, temos uma clara explicação sobre os fundamentos da "luta por reconhecimento". Diz Werle que "baseado em Hegel, Honneth identifica três dimensões do reconhecimento distintas, mas interligadas. A primeira consiste nas relações primárias baseadas no amor e na amizade, e diz respeito à esfera emotiva, em que é permitido ao indivído desenvolver uma confiança em si mesmo que é indispensável para seus projetos de auto-realização pessoal. A segunda dimensão consiste nas relações jurídicas baseadas em "direitos". Trata-se da esfera jurídico-moral, em que a pessoa é reconhecida como autônoma e moralmente imputável e desenvolve sentimentos de auto-respeito. A terceira e última dimensão é aquela que concerne à comunidade de valores baseada na "solidariedade social". Honneth está pensando na esfera da estima social, na qual os projetos de auto-realização pessoal podem ser objeto de respeito solidário numa comunidade de valores" (Pg. 55).
Apesar de entender pouco sobre as teorias tratadas na ocasião, alguns meandros acerca da teoria do reconhecimento foram esclarecidos. Ela permite, por exemplo, identificar conflitos sociais em nível pré-linguístico, ou seja, aqueles ainda não expressos racionalmente.
Duas ideias eu considerei importantes para, quando for possível, pesquisar. Em Hegel, o capítulo sobre a "sociedade burguesa" do livro Filosofia do Direito, pois aí temos a descrição do que se entende atualmente por "esfera privada". A outra referência está em Durkheim que forneceu a chave para descortinar a "infraestrutura moral" da sociedade através da análise de práticas punitivas. Ou seja, o que a sociedade condena através de sanções.
O terceiro dia foi mais suave. Respondeu a questões mais pessoais (como o sentimento de ocupar a cadeira que foi de Horkheimer, Adorno e Habermas e sua predileção por Bob Dylan). Sem entrar nos pormenores das críticas dirigidas aos seus antecessores e também das heranças apropriadas e transmitidas, acho importante destacar o seu distanciamento com relação ao conceito de "negatividade". Para ele, a teologia expressa na negatividade se devia muito ao fato de Horkheimer e Adorno serem judeus, oriundos de famílias tradicionais, etc.
Acredito que um dos segredos para a Escola de Frankfurt se manter viva e criativa se deve à prática incessante da crítica interna e do diálogo construtivo com outras tendências teóricas. Admitir que as teorias são imperfeitas, embora mais que necessárias.
Entendi a necessidade de multiplicarmos por mil a compreensão que fazemos da vida social. Como? Aprimorando conceitos, rejeitando teorias simplistas e dialogando abertamente com os outros, mesmo quando não haja concordância.
25 setembro, 2009
Desastre Socioambiental
O jornalismo registra os fatos. Árdua tarefa para o Sociólogo acompanhar e, mais ainda, desvendar o significado oculto dos fatos cotidianos. Por isso teorizamos: para ressignificar o que, pela repetição, se torna banal, corriqueiro, destituído de importância.
As explosões em Santo André não podem ser tratadas como simples "acidente". É o diagnóstico das atividades humanas quando, essas, geram consequências imprevistas pela simples racionalidade econômica.
Dito de outra forma: a complexidade do meio ambiente é reduzida apenas no seu valor econômico em detrimento dos demais valores (social, cultural, político e ambiental). O problema é que os prejuízos cobrem todas essas esferas (ou campos) incluindo o econômico.
O pior é que tal perversidade não contribui para o amadurecimento da sociedade se ficar preso a descrição dos fatos. Essas pessoas não podem contestar algo que não seja o dono do estabelecimento, já que o pensamento responsável pelo desastre é algo internalizado na cultura e nos hábitos individuais e coletivos, por isso se repetem, mesmo que de outra formas.
Outros dois fatores se relacionam com os já mencionados (que por motivo de tempo serão apenas citados): a necessidade de descentralização como medida para conter o "inchaço urbano", apontado por Ignacy Sachs no seu livro "Rumo à Ecossocioeconomia", e a pobreza que leva, necessariamente, a um grande contingente de pessoas conviverem com riscos industriais ou estruturais.
Acredito que ao invés de "acidente" devemos rotular o acontecimento de "desastre socioambiental". Levamos em conta, com base nos grandes pensadores do nosso tempo, a complexidade dos saberes que se preocupam com a vida e com a justiça social.
10 setembro, 2009
Sobre o método
Como conhecemos algo? Que o erro pode nos ensinar?
Uma resposta definitiva não existe. Caminho para a direção de que o método define a maneira como vemos o mundo.
A universidade, por exemplo, foi construída a partir de uma visão de mundo.
Ao chegar na Universidade, hoje, reparei que até o chão onde caminhamos nos dá a sensação de segurança, de solidez, que reflete a posição do sujeito frente ao conhecimento tal como é praticado nessa instituição.
O chão é coberto por concreto, em forma de quadrados, o que remete à ideia de "sistema cartesiano" idealizado por Descartes. Ao olharmos para o chão, a imagem influencia.
Foi um certo filósofo da Ciência, chamado Karl Popper, que disse: "Toda ciência repousa sob areia movediça". Mesmo assim, o empenho científico fornece a maior parte da informação digna sobre o mundo.
É preciso abertura para dialogar com as diferentes teorias. Assim podemos ver o que permanece e o que é transitório na sociedade.
27 agosto, 2009
O que tanto encomoda nesse "desenvolvimento sustentável"?
Constatei uma certeza, construída com zelo e reflexão, mas que se tornou gritante nesse momento: a UFRGS perdeu completamente sua autonomia (claro que nem de longe o curso de Ciências Sociais algum dia tivera, na sua engenharia, pretensões frankfurtianas).
O marxista István Mészáros veio, hoje, á Porto Alegre, defender um discurso pífio sobre a crise econômica internacional. Nem de perto demonstrou a erudição presente no grande livro "A Teoria da Alienação em Marx", que estou lendo para uma cadeira de Economia.
A palestra ocorreu no Salão de Festas da Reitoria da Universidade. Como numa armação, seu enfoque privilegiou um tema que definitivamente se mostrou não ser de sua especialidade: a crise ecológica. Disse, conforme o tradutor simultâneo, que "não haverá revolução verde, sem primeiro a revolução vermelha" (seguido de aplausos do grande público). Ora, preciso dizer que ele veio com o intuito de conter o "efeito Marina Silva"?! Com toda a clareza foi um discurso arquitetado visando manter um setor da militância potencialmente desertor do PT. Posso estar enganado? Essa é a minha opinião, embora não tenha citado ela em seu discurso, o mesmo não ocorreu quanto citou o presidente Lula e o programa de "combate à fome". Achei estranho que ele não utilizou, uma única vez, o termo "sustentável" que faz parte do jargão político da Marina. Defendeu, por diversas vezes, um nebuloso desenvolvimento "responsável".
A palestra faz parte de uma série de outras que ele está fazendo nas Universidades Federais. Fico imaginando a repercussão política disso, aqui, e em outras universidades. É preocupante a estrutura corporativa de alguns segmentos da sociedade! No fim de tudo, aquele senhor bem trajado, mais pareceia estar mantendo interesses políticos do status quo, que por sua vez são sustentados por interesses econômicos e que, novamente, sustentam toda a estrutura ideológica do Estado.
23 agosto, 2009
Vitória do melhor argumento em Porto Alegre
No jornal de domingo constava uma carta com os argumentos do "não" e outra com os do "sim".
Analisei os dois com a pressuposição da possibilidade de ambos teriam conteúdos verdadeiros desde seu ponto-de-vista e interesses distintos.
O primeiro, escrito por Paulo Guarnieri, fez um balanço ambiental, social e econômico da situação, privilegiando a incorporação de todos interesses envolvidos, inclusive os econômicos. O segundo, escrito por Filipe Wels, se deteve apenas a contradizer as informações do primeiro, acusando o adversário de "ideológico", "doutrinário" e "irracional". Seu apelo principal era o progresso da cidade! Ora, como nos ensina o filósofo Habermas, ao denunciar a lógica do debate hostil, "a fim de, em geral, poder verificar a enunciação de outra pessoa quanto à sua verdade, correção normativa e autenticidade, em primeiro lugar precisam ser aceitas precisamente estas pretensões de verdade, precisa ser aceita a racionalidade do oponente. O exame de suas enunciações pode, entretanto, ter um resultado negativo".
Um discurso ancorado na hostilidade estaria fadado a recusa democrática.
O nível de informação e princípios adotados pelos representantes do "não" demonstra que os valores e interesses puramente econômicos são estranhos aos princípios democráticos. Podemos retomar novamente ao filósofo Jürgen Habermas. A democracia deliberativa envolve além dos recursos dinheiro e poder, o terceiro recurso que é a solidariedade formada comunicativamente.
Após o resultado, um acesso de fúria e autoritarismo chegou a tal ponto que um jornalista da capital, defensor e ideólogo da posição, não derrotada, mas rechaçada, disse em seu blog que "Ecologistas xiitas fundamentalistas guascas vencem referendo em Porto Alegre". Logo em seguida, talvez por algum resto de equilíbrio, ou por crítica recebida, substituiu a mensagem por uma crítica precipitada ao pouco comparecimento às urnas. Digo que foi precipitada, pois não observou a informação referida acima sobre a cobrança de passagens.
A dicotomia política de esquerda e direita ainda nos diz muito, especialmente em torno do sistema político, tais como mídia, esfera pública e interessados da sociedade civil em geral.
Compartilho com Habermas uma confiança nos procedimentos democráticos e comunicativos para deter a colonização do mundo da vida pelo sistema econômico. Vitória da esfera pública e do melhor argumento!
20 agosto, 2009
O ambientalismo no Brasil vive um novo momento
Naquela altura do jogo em que a sucessão presidencial já parecia definida entre Dilma e Serra, Eli da Veiga indicava que "duas lideranças políticas poderiam apresentar uma plataforma realmente progressista aos eleitores: o deputado Fernando Gabeira e a senadora Marina Silva. Mas não conseguiriam alcançar o segundo turno por causa do viés antirrenovador das regras eleitorais sobre o uso dos meios de comunicação de massa. Assim, será muito melhor para a sociedade brasileira que eles garantam trincheiras no Senado ou em governos estaduais, em vez de irem para o sacrifício em candidatura presidencial".
Duas questões políticas se colocam como salutares, uma na ordem política e outra de ordem mais econômica: na "Folha" de hoje destaco a impressionante notícia de que o PV ofereceu a senadora Marina Silva 10 das 21 cadeiras da comissão que fixará a política do partido em nível nacional. Aprovou ainda a intervenção nos diretórios estaduais que não sigam as diretrizes do partido. Ou seja, podemos deduzir que o Partido Verde se encontra em situação de extrema debilidade interna.
17 agosto, 2009
Haikai de Paulo Leminski (não lembra 1968?)
Todas las armas son buenas
Piedras
Moches
Poemas
07 julho, 2009
Falecimento de Robert McNamara
McNamara foi uma espécie de Magaiver dos Estados Unidos. Pertencia ao grupo dos "Whiz Kids", um conjunto de universitários brilhantes que trabalhou no Pentágono durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o professor Luiz Miranda, foi o personagem importante no cerco montado contra os japoneses. Depois foi contratado pela Ford onde se tornou presidente. Ele inventou, por exemplo, o encosto de cabeça (ou desnucador) dos automóveis. Depois, foi Secretário de Defesa nos governos Kennedy e Johnson, e um artífice central na guerra do Vietnã e na invasão à Baía dos Porcos em Cuba (dois fracassos notáveis na História estadunidense). Por fim, foi presidente do Banco Mundial num longo período, de 1968 até 1981.
Ontem, segunda-feira, estava no ônibus com a minha namorada e lembrei de McNamara, em função do encosto. Contei para ela brevemente a história dele. E não é que hoje de manhã eu me deparo com a notícia da morte do homem?! Faleceu aos 93 anos de idade.
Ou foi coincidência ou o nós, humanos, realmente temos a capacidade de sentir frequências vindas de outras partes do mundo. Não seria a boa e velha intuição?
27 junho, 2009
O pensamento teológico no meu imaginário
Num certo dia eu olhava na televisão o programa Globo repórter cujo assunto não lembro claramente. O locutor dizia o nome de dez cientistas – com as suas respectivas fotografias – que não acreditavam em Deus. A partir daí, me botava então a perguntar, em pensamento, se aquele signo de um ser divino, mas com características de uma pessoa normal, pudesse realmente existir, influenciando as nossas vidas. Foi nesse momento em que aqueles costumes todos pareciam perder a serventia para mim.
Meu olhar se voltava, assim, com revés para aquilo e meus pais continuavam a dizer para rezar porque era bom. Na verdade, fui-me afastando progressivamente da moral cristã até que uma concepção de crença estava sendo formada em minha mente. Algo que fugia de uma visão única, de uma sensação de impotência para a realidade. Parti em busca de uma percepção do mundo que discordava em aceitar as coisas como eram dadas.
15 junho, 2009
Poucas frases dizem tanto...
07 junho, 2009
Desafiando as estruturas
No endereço de notícias onde eu capturei a foto dizia "após se aproximar do tenista (suíço Roger Federer) o invasor saiu correndo pela quadra sob muitas vaias da torcida francesa. Só após se aproximar da rede, o fã foi derrubado por um dos seguranças. A plateia aplaudiu a ação".
O destaque merece atenção e requer explicação sociológica: o mundo social é previamente definido por normalidades que orientam os nossos modos de pensar e agir. Ou seja, geralmente as pessoas se comportam significativamente voltadas para o comportamento de outros, como diria Max Weber. É o caso do público de tênis que obedece quase que mecanicamente uns aos outros.
Percebe-se que o sujeito transgressor ignora o constrangimento causado pelo público, sob forma de vaias. A coerção social se encontra aí de forma bastante nítida quando, não adiantando a reprovação sonora da maioria, restou o uso da força física para corrigir o desvio. Qualquer semelhança com Durkheim não é mera coincidência. Ponto para o sociólogo francês!
Posteriormente, um conterrâneo de Durkheim, Pierre Bourdieu, aprimorou com maestria as nuances desse fênomeno. Ele mesmo fez uma anologia entre o seu conceito de habitus e uma partida de tênis, ampliando o escopo da análise para outros espaços sociais (política, cultura, economia, religião, etc.). Diz ele que "o habitus como sentido do jogo é o jogo social incorporado, transformado em natureza. Nada é simultaneamente mais livre e mais coagido do que a ação de um bom jogador. Ele fica naturalmente no lugar em que a bola vai cair, como se a bola o comandasse, mas, desse modo, ele comanda a bola".
Pirâmide do Sistema Capitalista
Em virtude das vestimentas e dos autores representados, típicos do século XIX, me fez lembrar como chamávamos, no colégio, esse período histórico: a Belle Époque.
05 junho, 2009
Home - Nosso Planeta, Nossa Casa
Fui ao cinema assistir com a minha namorada a estreia mundial do documentário "Home - Nosso Planeta, Nossa Casa", do diretor Yann Arthus-Bertrand. Gostei! As tomadas aéreas são emocionantes, repletas de mistério.
Acima de tudo, o filme carrega um profundo sentimento de altruísmo. A mensagem é direta: a vida necessita de equilíbrio para perdurar. Um processo extremamente lento e complexo desencadeou o mundo como o conhecemos.
Nesse momento a nossa e muitas outras espécies encontraram situação favorável para a sobrevivência. O homem criou a agricultura e passou a depender dela para sua expansão. Mas foi com o surgimento do petróleo que a humanidade alterou profundamente tudo em sua volta. A modernização que fascina é a mesma que assusta por sua imponência. Começa então a crítica ao consumo excessivo da carne, ao uso de pesticidas nas lavouras, a dependência do petróleo, ao uso do automóvel individual (900 milhões no mundo), a pesca predatória, a pobreza extrema e etc. Um filme para se ver com pessoas de coragem, que acreditem na razão e na moderação como alternativa para o século XXI.
Confira o endereço do filme abaixo, vale a pena:
http://www.home2009.com.br/
04 junho, 2009
Sociologia e Meio Ambiente
Carlos Walter Porto - Gonçalves
Em 2007 eu realizei uma disciplina na Universidade sobre "Sociologia e Meio Ambiente". Lembro que, durante seis meses, minhas atenções estavam todas para esse campo. Realmente li um calhamaço de textos e estudos. Terminei a disciplina com a convicção de que minha mente havia mudado. Também passei a me sentir "autorizado" para abordar o assunto quando necessário. Lembro que nós, estudantes comprometidos com aquela disciplina, nos sentimos um pouco órfãos quando ela terminou.
Descobri que um indivíduo informado e ético para com o meio-ambiente não significa que ele haja passado por um ritual forçado ao vegetarianismo, nem a imediata adesão a filosofias orientais. O que importa é assumirmos a nossa “pegada ecológica” no planeta e, assim, refletirmos quais as atitudes individuais que poderão fazer a diferença.
De fato, na política, o movimento ambiental abrange todo o universo em que se divide o pensamento e as ações políticas. Encontramos agentes representando desde as correntes mais sectárias – os adeptos da chamada “ecologia profunda” - até as mais abertas e disponíveis para o diálogo (essa ala forma a maioria, e defende basicamente o “Desenvolvimento Sustentável”). Claro que nesse contexto surgem, a todo o momento, os eco-aproveitadores e os eco-carreiristas de plantão. A ecologia torna-se um sucesso, um vendedor de si mesmo.
Existem vários modos de justificar esta mudança radical de posição (em particular do homem ocidental) diante da natureza, por efeito da qual passamos da consideração da natureza como objeto de mero domínio à idéia da natureza como sujeito de utilização não mais arbitrariamente ilimitada. Mas o ponto de vista mais pragmático e urgente na atualidade é aquele que leva em conta o possível esgotamento dos recursos escassos e, assim, o fim da civilização humana.
Vemos também, desde a 2ª Guerra Mundial (e suas bombas atômicas), o desmoronamento da idéia de progresso. Uma série de efeitos colaterais despercebidos da produção industrial não poderia mais ser apontado como um “problema ambiental”, mas sim como uma crise institucional profunda da própria sociedade industrial. Com isso, passamos a viver, no entender de Ulrich Beck, numa sociedade de risco. As ciências atuando de forma decisiva em nosso cotidiano, alterando nossas idéias e questionando as antigas tradições que a modernidade havia tentado consolidar.
Conceitos como "sustentabilidade", "entropia", "adaptação" tecnológica e cultural estão no centro dos debates científicos internacionais. O que está em jogo é continuarmos com o verificável padrão insustentável de produção e consumo (e confiar que as descobertas científicas resolvam todos os problemas), ou canalizar energias para um modelo de sociedade (ainda não formulado) pautado na racionalidade dos recursos materiais e humanos e que leve em conta valores como respeito mútuo, preservação da vida, felicidade e dignidade humana.
31 maio, 2009
Há 20 anos Porto Alegre recebia uma lenda!
24 abril, 2009
Entrevista com Fernando Meligeni
Fernando Nogueira - Estou
FERNANDO MELIGENI – É
F. M. –
F. M. –
F. M. –
Noah – Falando das
F. M. –
F. M. – Vamos de “
08 abril, 2009
O país e a propriedade intelectual
"O Brasil está listado em 68º lugar entre os países que respeitam o direito à propriedade material e intelectual, de um total de 115 nações que representam 96% do PIB no mundo. (...) A liderança no índice é ocupada pela Finlândia, seguida pela Dinamarca e pela Nova Zelândia. O vice-presidente do Instituto Liberal, Ricardo Santos Gomes, atribui essa redução da classificação brasileira - no ano passado o país ficou em 65º lugar - à falta de controle da corrupção, à burocracia no registro da propriedade e à ausência de proteção material e intelectual".
A Constância
Ao folhear um livro do Cláudio de Moura Castro, chamado "A Prática da Pesquisa", encontrei uma espécie de guia para jovens cientistas... Mas serve para quem quiser!
Me refiro a "Carta aos Jovens", do russo Ivan Pavlov, que diz o seguinte:
"O que eu desejaria aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência?
Antes de tudo - constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante condição para o trabalho científico. Desde o início de seus trabalhos habituem-se a uma rigorosa constância na acumulação do conhecimento. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas.
Acostumem-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho árduo da ciência. Estudem, comparem, acumulem fatos.
Em segundo lugar, sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em alta conta; possam ter sempre a coragem de dizer: sou ignorante (Comentário meu: parte muito semelhante a sentença socrática "só sei que nada sei").
Em terceiro lugar, a paixão. Lembrem-se de que a Ciência exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A Ciência demanda dos indivíduos grande tensão e forte paixão. Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas".
02 abril, 2009
Abertura
Uma busca que nasce da necessidade de expressão, numa sociedade de pessoas que vão e vem, que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases.
Para não cair no pólo oposto, do discurso interminável sobre nada específico, penso em postar mensagens curtas.
Uma idéia foi amadurecendo em mim. Querer democratizar as minhas opiniões e publicar resenhas de livros. Trata-se de modernizar uma sistemática de documentação e de estudo. Meu campo de atuação é a Sociologia, e sei das dificuldades de encontrar material de qualidade, devido a grande dispersão e dos diversos interesses (alguns válidos, outros questionáveis) que o conhecimento sociológico se reveste. Mas isso é assunto para outra ocasião.
Hoje é um dia importante!
Quero agradecer ao Noah pelo incentivo de fundar o blog.
Tudo tem o seu tempo certo, vamos em frente!