27 dezembro, 2010

Insight Insólito

Jorge Drexler é o Roger Federer da música contemporânea.

21 dezembro, 2010

Film Socialisme

Acabo de assistir "Film Socialisme" de Godard. Fui sem expectativas e saí surpreendido positivamente. Em momento algum o filme declina, apenas instiga o espectador a descobrir o que exatamente se está querendo dizer. A meu ver, o filme responde a maioria das questões que coloca. Primeiro, a Europa atual se encontra tão esvaziada e colonizada pelos valores do individualismo e do sistema econômico que praticamente não se reconhece mais o seu charme e aquele cultivo de si que sempre os distinguiu (a não ser em alguns redutos temporais coloridos, como é o caso da família interiorana nas imediações de Toulouse). Somos, basicamente, uma comunidade mundial de consumidores amortecidos, dividos por fatias de mercado. Segundo, as camêras digitais dos turistas se coisificam a ponto de adquirirem vida própria, independente de quem as aciona. Terceiro, as tecnologias da informação dinamitaram as estruturas e as formas de expressão que antigamente se encontravam claramente separadas (rádio, jornal, televisão, etc.). todas essas mídias foram sugadas pela rede. Os objetos que os transmitiam se tornaram obsoletos. Umas das consequências disso é que a excessiva produção de informação confunde os sentidos e os juízos de valor.

25 novembro, 2010

Missão cumprida

Ontem, 24 de novembro de 2010, se tornou um dia histórico para mim: foi quando participei da última aula na última cadeira de Licenciatura em Ciências Sociais. Agora é esperar pelo ritual de colação de grau, dia 9 de janeiro de 2011. Estou iluminado!

20 novembro, 2010

A miopia da "opinião pública"

Faço três apontamentos acerca da polêmica causada pela malograda opinião de Luiz Carlos Prates, da TV RBS de Santa Catarina, sobre os acidentes de trânsito.

Primeiro: a infelicidade do comentário reflete um contexto muito mais amplo da grande imprensa brasileira: um generalizado despreparo (técnico e intelectual) para abordar temas que exigem pensamento interdisciplinar e complexo. Para além de “crucificar” o comentário raivoso e anti-republicano do jornalista, é preciso criar espaços na mídia para que atores sociais intervenham na esfera pública com o objetivo de esclarecer e mostrar soluções para problemas públicos. O que conta na mídia, em diversos casos, não é o mérito, mas o prestígio social do(a) jornalista. Um caso recente desse despreparo é o programa Roda Viva (vide entrevista com José Dirceu), que perdeu completamente a credibilidade, ao convidar, entre outros igualmente despreparados, uma jornalista especializada na vida íntima das celebridades para ser a apresentadora. Kennedy Alencar, por exemplo, é um nome mais indicado para ocupar essa cadeira.

Segundo: a ironia dos adeptos do liberalismo econômico. É facilmente identificável os (pequenos) interesses de classe que expressam a opinião fragmentada dos formadores de opinião da grande mídia. A repercussão de repúdio que assistimos se deve a enorme diferenciação social que ocorreu no capitalismo pós-guerra. Especialmente, a magnitude da ampliação dos setores médios, que torna mais complexa a oposição inicial entre capitalistas e proletários. O que vimos, portanto, foi um conflito interno à própria classe média, cada vez mais numerosa e ambígua. Formadores de opinião, insisto, precisam ter visão de conjuntura.

Historicamente, os ideólogos da direita sempre foram favoráveis a auto-regulamentação da sociedade pelo mercado, ou seja, que o Estado anule, a qualquer custo, a cobrança de impostos prejudiciais a livre circulação de mercadorias. Ora, o que se espera dos defensores da não intervenção estatal no mercado é coerência. E com isso não estou também defendendo o governo. O referido opiniático pertence a uma classe alta que está hierarquicamente abaixo dos grandes capitalistas. Para esses, a ampliação do consumo de automóveis é benéfica (e para os trabalhadores das fábricas também, mesmo que por um prazo determinado, até que o mercado se reestruture novamente).

Terceiro: nesse sentido, o problema dos automóveis no espaço urbano existe, sim. Porém, é incorreto dizer que os acidentes e mortes no trânsito decorrem desse fato extremamente recente (a ampliação do crédito e a redução dos impostos dos automóveis e eletrodomésticos em geral). O jornalista se precipitou, pois precisaria provar empiricamente comparando variáveis de renda, escolaridade e acidentes de trânsito. A indústria automobilística e o “sonho" do carro próprio irão enfrentar barreiras intransponíveis em curto prazo, que só o investimento e a modernização do transporte público poderão resolver. Por isso, discordo tanto de Luiz Carlos Prates quanto de quem se considera otimista com a expansão do acesso ao automóvel (não vamos nos enganar, pois o automóvel continua sendo restrito a uma minoria). Não pelo direito, em si, de cada cidadão ter seu automóvel, mas pelas conseqüências concretas desse para a coletividade, seja motorista ou pedestre.

23 março, 2010

Análise da conjuntura política-social no Brasil

O sociólogo Rudá Ricci mapeou algumas tendências societárias no Brasil atual. Reproduzo aqui algumas de suas colocações em entrevista recente a uma rádio mineira, por motivos apenas de valor sociológico, pois é um estudioso que tem experiência vivida do que está falando, não tendo apenas conhecimento livresco:

1ª Estamos vivenciando a maior crise interna que o PSDB já sofreu, desde sua fundação. Provavelmente, se José Serra perder a eleição, Aécio Neves irá despontar como a principal liderança desse partido.

2ª Teoricamente, Dilma Roussef faz parte do bloco lulista. Mas ela não tem o perfil de uma pessoa que se deixa ser conduzida como marionete. Ela vem das águas do PDT gaúcho, brizolista e centralizador. Pode, no futuro, oferecer problemas para o próprio Lula. Irá, pelo menos, criar algum tipo de resistência a liderança absoluta de Lula.

3ª Qual é a equipe que Dilma está montando? O da primeira gestão do governo Lula: José Dirceu, Fernando Pimentel, etc. Pessoas que não se construíram politicamente como ela, no PT, a partir da mobilização de massas. Ao contrário de Lula, que se forjou nas lutas sociais. Então esse "staff" não tem a ver com as lutas sociais, com ONG's, lideranças da Igreja Católica ligada a Teologia da Libertação. Dilma deverá cristalizar a mudança no perfil de projeto político no PT. Antes eram lideranças de base e, hoje, são técnicos da política.

4ª Segundo Rudá, com a vitória de Dilma, ocorrerá um confronto interno entre o lulismo e o PT. Dilma operaria uma transição mais forte em prol dos setores técnico-burocráticos do partido.
Isso em razão de representar um clássico modelo de esquerda governar como era no antigo "Partidão" (PCB). Esse modelo é centralizador, meramente técnico, que negocia diretamente com atores políticos que interferem na agenda nacional.

5ª O lugar da política, que nos anos 80, se lutava para que fosse também nos bairros e nos locais de trabalho, acabam. Essa era dos movimentos sociais termina de uma vez, não importa quem vença a eleição. Os trabalhadores e as donas de casa voltam para suas casas e locais de trabalho. Um dos motivos para isso está no fato da relação de proximidade do presidente com a população. O lulismo se antecipa ao desejo e estabelece uma relação de tutela.

6ª A estrutura colossal do governo lulista: O lulismo se apoia em três grandes vertentes.
O primeiro bloco diz respeito ao PAC e a consequente aproximação com o grande capital brasileiro. 90% das multinacionais brasileiras recebem financiamento do BNDS.
O segundo bloco está no diálogo direto com os setores mais pobres da população e com a nova classe média, através do crédito consignado, aumento do salário mínimo e do bolsa família (e cotas).
O terceiro bloco é formado junto aos demais partidos. O atual governo montou uma estrutura de coalisão presidencialista. Os demais partidos perderam a independência e não apresentam nenhuma alternativa como projeto nacional.

7ª O DEM praticamente não existe mais como partido e oposição.

8ª Existe uma descrença da população em relação as instituições. Os movimentos sociais precisam recuperar a autonomia. As redes sociais, grande parte dos movimentos sociais e ONG's se partidarizaram e viraram base de campanha eleitoral, mesmo esses não os representando de forma participativa. Já vi debates na internet que são totalmente pautados como se fossem partidas de futebol.

9ª Existe 30 mil conselhos (saúde, educação, etc.) no país. Estão absolutamente desarticulados pois não pautam as reuniões com o governo.

10ª O conservadorismo da sociedade civil: em recente livro chamado "A classe média brasileira", organizado por Bolivar Lamounier e Amaury de Souza, é apresentado os dados de que 63% dos membros da classe D e E nunca participaram de organização social, já na classe C esse mesmo indicador fica com 56%. A família é o único agrupamento social confiável (80%). Nem amigos aparecem como confiáveis (40%). Segundo a pesquisa, a única instituição citada como digna de confiança é a igreja (66%). Depois, a televisão (26%).

11ª Por fim, sua tese é de que o brasileiro não é solidário, porque é desconfiado e se isola na família. Uma outra pesquisa revelou que, apesar da maioria se declarar contra o aborto, confessam a existência de pelo menos um caso de aborto na família.

18 março, 2010

Poesia do dia

Um poema não me sai da cabeça nas últimas semanas. O curioso é que eu decorei ele faz alguns anos e não saberia dizer em que livro ele está, apenas que foi escrito por Paulo Leminski, a quem devo dizer que sou fã de carteirinha (vide o outro poema da "lucha de classes"). Ele é mais ou menos assim:

Dois namorados olhando o céu
chegam a mesma conclusão
Mesmo que a Terra
não passe da próxima guerra
Mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu...