27 junho, 2009

O pensamento teológico no meu imaginário

A descoberta de uma dúvida quanto a existência de Deus aconteceu quando eu ainda era muito pequeno. Deveria ter 7 ou 8 anos, no máximo. Por aquela época, minha família mantinha uma freqüência constante de idas à Igreja; eu ia junto e rezava.
Num certo dia eu olhava na televisão o programa Globo repórter cujo assunto não lembro claramente. O locutor dizia o nome de dez cientistas – com as suas respectivas fotografias – que não acreditavam em Deus. A partir daí, me botava então a perguntar, em pensamento, se aquele signo de um ser divino, mas com características de uma pessoa normal, pudesse realmente existir, influenciando as nossas vidas. Foi nesse momento em que aqueles costumes todos pareciam perder a serventia para mim.
Meu olhar se voltava, assim, com revés para aquilo e meus pais continuavam a dizer para rezar porque era bom. Na verdade, fui-me afastando progressivamente da moral cristã até que uma concepção de crença estava sendo formada em minha mente. Algo que fugia de uma visão única, de uma sensação de impotência para a realidade. Parti em busca de uma percepção do mundo que discordava em aceitar as coisas como eram dadas.

15 junho, 2009

Poucas frases dizem tanto...

"Economia de tempo, a isso toda a economia em última instância se reduz". Karl Marx

07 junho, 2009

Desafiando as estruturas

Na partida final do torneio Roland Garros, hoje, aconteceu um daqueles famosos "incidentes" que consiste na invasão da quadra por algum torcedor mais "empolgado".
No endereço de notícias onde eu capturei a foto dizia "após se aproximar do tenista (suíço Roger Federer) o invasor saiu correndo pela quadra sob muitas vaias da torcida francesa. Só após se aproximar da rede, o fã foi derrubado por um dos seguranças. A plateia aplaudiu a ação".
O destaque merece atenção e requer explicação sociológica: o mundo social é previamente definido por normalidades que orientam os nossos modos de pensar e agir. Ou seja, geralmente as pessoas se comportam significativamente voltadas para o comportamento de outros, como diria Max Weber. É o caso do público de tênis que obedece quase que mecanicamente uns aos outros.
Percebe-se que o sujeito transgressor ignora o constrangimento causado pelo público, sob forma de vaias. A coerção social se encontra aí de forma bastante nítida quando, não adiantando a reprovação sonora da maioria, restou o uso da força física para corrigir o desvio. Qualquer semelhança com Durkheim não é mera coincidência. Ponto para o sociólogo francês!
Posteriormente, um conterrâneo de Durkheim, Pierre Bourdieu, aprimorou com maestria as nuances desse fênomeno. Ele mesmo fez uma anologia entre o seu conceito de habitus e uma partida de tênis, ampliando o escopo da análise para outros espaços sociais (política, cultura, economia, religião, etc.). Diz ele que "o habitus como sentido do jogo é o jogo social incorporado, transformado em natureza. Nada é simultaneamente mais livre e mais coagido do que a ação de um bom jogador. Ele fica naturalmente no lugar em que a bola vai cair, como se a bola o comandasse, mas, desse modo, ele comanda a bola".

Pirâmide do Sistema Capitalista


A imagem reproduzida acima ajuda a ilustrar a diferenciação social no sistema capitalista (ou a teoria da luta de classes). Necessitaria, porém, de uma explicação mais aprofundada se quiséssemos compreender os mecanismos sociais que geram a desigualdade na sociedade contemporânea. A mera transposição de uma época passada para a nossa acarreta um grave empobrecimento analítico pois supõe, simplesmente, que a História pouco ou nada mudou. Qualquer discordância dessa leitura, portanto, não mereceria qualquer atenção, o que revela claramente o conservadorismo dos que repetem tal fórmula.
Em virtude das vestimentas e dos autores representados, típicos do século XIX, me fez lembrar como chamávamos, no colégio, esse período histórico: a Belle Époque.

05 junho, 2009

Home - Nosso Planeta, Nossa Casa

Hoje, 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Fui ao cinema assistir com a minha namorada a estreia mundial do documentário "Home - Nosso Planeta, Nossa Casa", do diretor Yann Arthus-Bertrand. Gostei! As tomadas aéreas são emocionantes, repletas de mistério.
Acima de tudo, o filme carrega um profundo sentimento de altruísmo. A mensagem é direta: a vida necessita de equilíbrio para perdurar. Um processo extremamente lento e complexo desencadeou o mundo como o conhecemos.
Nesse momento a nossa e muitas outras espécies encontraram situação favorável para a sobrevivência. O homem criou a agricultura e passou a depender dela para sua expansão. Mas foi com o surgimento do petróleo que a humanidade alterou profundamente tudo em sua volta. A modernização que fascina é a mesma que assusta por sua imponência. Começa então a crítica ao consumo excessivo da carne, ao uso de pesticidas nas lavouras, a dependência do petróleo, ao uso do automóvel individual (900 milhões no mundo), a pesca predatória, a pobreza extrema e etc. Um filme para se ver com pessoas de coragem, que acreditem na razão e na moderação como alternativa para o século XXI.

Confira o endereço do filme abaixo, vale a pena:

http://www.home2009.com.br/


04 junho, 2009

Sociologia e Meio Ambiente

"A economia não paira no ar; ela está inscrita na materialidade".
Carlos Walter Porto - Gonçalves

Em 2007 eu realizei uma disciplina na Universidade sobre "Sociologia e Meio Ambiente". Lembro que, durante seis meses, minhas atenções estavam todas para esse campo. Realmente li um calhamaço de textos e estudos. Terminei a disciplina com a convicção de que minha mente havia mudado. Também passei a me sentir "autorizado" para abordar o assunto quando necessário. Lembro que nós, estudantes comprometidos com aquela disciplina, nos sentimos um pouco órfãos quando ela terminou.
Descobri que um indivíduo informado e ético para com o meio-ambiente não significa que ele haja passado por um ritual forçado ao vegetarianismo, nem a imediata adesão a filosofias orientais. O que importa é assumirmos a nossa “pegada ecológica” no planeta e, assim, refletirmos quais as atitudes individuais que poderão fazer a diferença.
De fato, na política, o movimento ambiental abrange todo o universo em que se divide o pensamento e as ações políticas. Encontramos agentes representando desde as correntes mais sectárias – os adeptos da chamada “ecologia profunda” - até as mais abertas e disponíveis para o diálogo (essa ala forma a maioria, e defende basicamente o “Desenvolvimento Sustentável”). Claro que nesse contexto surgem, a todo o momento, os eco-aproveitadores e os eco-carreiristas de plantão. A ecologia torna-se um sucesso, um vendedor de si mesmo.
Existem vários modos de justificar esta mudança radical de posição (em particular do homem ocidental) diante da natureza, por efeito da qual passamos da consideração da natureza como objeto de mero domínio à idéia da natureza como sujeito de utilização não mais arbitrariamente ilimitada. Mas o ponto de vista mais pragmático e urgente na atualidade é aquele que leva em conta o possível esgotamento dos recursos escassos e, assim, o fim da civilização humana.
Vemos também, desde a 2ª Guerra Mundial (e suas bombas atômicas), o desmoronamento da idéia de progresso. Uma série de efeitos colaterais despercebidos da produção industrial não poderia mais ser apontado como um “problema ambiental”, mas sim como uma crise institucional profunda da própria sociedade industrial. Com isso, passamos a viver, no entender de Ulrich Beck, numa sociedade de risco. As ciências atuando de forma decisiva em nosso cotidiano, alterando nossas idéias e questionando as antigas tradições que a modernidade havia tentado consolidar.
Conceitos como "sustentabilidade", "entropia", "adaptação" tecnológica e cultural estão no centro dos debates científicos internacionais. O que está em jogo é continuarmos com o verificável padrão insustentável de produção e consumo (e confiar que as descobertas científicas resolvam todos os problemas), ou canalizar energias para um modelo de sociedade (ainda não formulado) pautado na racionalidade dos recursos materiais e humanos e que leve em conta valores como respeito mútuo, preservação da vida, felicidade e dignidade humana.