18 março, 2011

Apanhador Só

A tentativa de compreender sociologicamente a visibilidade da banda de rock gaúcha Apanhador Só é o que motiva este curto depoimento-analítico. Para tanto, a ideia é retroceder um pouco no tempo e descrever um pouco da gênese, antes mesmo das formações iniciais da mesma. Adoto essa perspectiva devido a condição de amizade que mantenho com seu vocalista, Alexandre, desde os 11 anos de idade (daí chamar depoimento), ao mesmo tempo em que busco um distanciamento crítico com o intuito de transcender tal ligação e oferecer uma leitura mais distanciada sobre o porque essa banda, como aliás, grande parte das bandas, não surgem de um "toque de mágica" ou do puro acaso.

Não pretendo esgotar a explicação sobre o fenômeno, até porque os próprios integrantes, amigos e observadores mais próximos, em outra ocasião, poderão fazer com muito mais riqueza e propriedade do que eu. O que importa, aqui, é, precisamente, entender como o processo de gestação do grupo dependeu de um tipo de capital particular, o cultural. Uma banda que seja digna desse nome, necessita de integrantes que tenham investido certo tempo em leitura, música, etc., muito antes de necessitar de capital econômico para voos mais altos.

O certo é que se trata de um fazer artesanal, repleto de incertezas, avesso a fórmulas prontas, que depende de uma delicada confluência de elementos favoráveis. Sem dúvida, o surgimento de bandas é um tipo de demanda que surge nos poros da vida social e cultural, muito distinto de uma exigência formal da sociedade, como são, aliás, as profissões institucionalizadas. É, portanto, dessas idas e vindas, feita de emoções e coragem, que a identificação da banda com seu público se manifesta. A curiosidade reside muito mais nesta fase genuína, do que na exploração comercial típico da "indústria cultural", quando as canções alcançam um público mais amplo, descontextualizando a origem das mesmas.

É puramente com base no vocalista da Apanhador que eu tiro minhas impressões. Reconheço que o fato de centrar meu texto no Alexandre limita uma reflexão mais abranjente. A omissão de outras contribuições decisivas fica por conta das minhas ignorâncias. Portanto, espero não cometer nenhuma injustiça com os demais integrantes do grupo.

A música entrou na jogada bem no início, um pouco depois de conhecê-lo, ainda na 5ª série. Meu irmão Marcelo Noah era, na época, um dedicado estudante de violão e isso despertou a curiosidade do Alexandre que passou a fazer aulas com Noah. Importante também era o incentivo que o Americano prestava à música, através de dois festivais que incentivava a formação de bandas entre os estudantes: o Bio in Concert - para os "mais velhos" do ensino médio - e o Poa in Concert, para os menores. Na sexta série, participamos do festival com uma versão modificada da música "Uma Brasileira" do Paralamas do Sucesso. A tentação de dizer que vencemos é grande, mas a verdade é que ficamos em segundo lugar. Dessa ocasião guardo boas lembranças, a primeira e última vez que arrisquei algumas notas em um palco.

A leitura que "fazia nossa cabeça", na época, estava na literatura do Pedro Bandeira, por indicação do Alexandre. Quem o leu vai entender as molecagens que fazíamos como as citadas a seguir. Ironicamente, já na faculdade, descobri que Pedro Bandeira é sociólogo como eu. Nem preciso dizer que seus livros eram críticos à sociedade, mas com muita ação que impedia o leitor de ficar entediado. Não demorou e Chico Buarque veio com tudo na vida do Kumpinski (na minha vida, um pouco depois, já no ensino médio), assim como tantos outros, tais como: Paralamas, Barão Vermelho, Beatles, Los Hermanos. No final do ensino fundamental, ele já arriscava alguns escritos (lembro vagamente de um conto sobre um prédio abandonado onde havia uma escada que pingava água).

O que guardo com maior entusiasmo do período entre meus 12 e 15 anos eram as encrencas em que nos metíamos. Jogar papel higiênico de cima do edifício, sementes em cima dos carros, inventar códigos escritos para se comunicar e andar de rolimã eram nossas ações de guerrilha urbana. Sabíamos que somente a criatividade poderia nos salvar do marasmo dos anos 90, de indivíduos hostis e atomizados agindo em bandos delinquentes. Nessa época descobri a Osvaldo Aranha, o sarau elétrico no Ocidente e tivemos a sorte de assistir ao excelente filme "The man who wasn't there" (2001), num cinema de rua cujo nome não consigo recordar e que logo depois fechou definitivamente as portas. O Alexandre já conhecia bem as ruas do Bom Fim, destemido, enquanto eu o acompanhava imerso em meu ingênuo imaginário social, repleto de monstros e medos.

Olho em perspectiva e não lembro de ter conhecido uma personalidade tão marcante quanto a do Alexandre. Centrado, racional e moderado. Sabe simplificar as coisas e vive tranquilamente, de forma sustentável, talvez por herança do sangue bugre que o habita. Como amigo, agora digo: tenho convicção de que terá pleno êxito na carreira, para não usar a palavra sucesso. O sucesso remete a uma posição desconfortável, de ser percebido em qualquer lugar e não ter sossego.

Para o depoimento não se alongar demasiado, arrisco dizer que a Apanhador Só trouxe um reavivamento cultural e simbólico de uma geração que passa a ter voz neste momento e que eram crianças na década de 1990. Expressa isso com talento, é claro, como também valorizando a matéria orgânica do que foi experimentado e vivenciado por todos seus integrantes. Talvez esse elementos ajudem a explicar sociologicamente a identificação por parte do público.

Texto dedicado ao Alexandre, aniversariante de hoje. Parabéns!

*Quem ainda não escutou os Apanhadores, baixe álbum completo em: http://www.apanhadorso.com/

29 janeiro, 2011

Lição de Bourdieu

Em algumas pessoas, notadamente entre aquelas menos reflexivas, o que não significa necessariamente menos escolarizadas, as estruturas sociais atuam com maior força e intensidade, produzindo o que Pierre Bourdieu chamou de "violência simbólica". Essa violência, muito particular, seria aquela que legitima as desigualdades sociais, porque encontra adesão dos próprios indivíduos que deveriam combatê-la, as vítimas.

27 dezembro, 2010

Insight Insólito

Jorge Drexler é o Roger Federer da música contemporânea.

21 dezembro, 2010

Film Socialisme

Acabo de assistir "Film Socialisme" de Godard. Fui sem expectativas e saí surpreendido positivamente. Em momento algum o filme declina, apenas instiga o espectador a descobrir o que exatamente se está querendo dizer. A meu ver, o filme responde a maioria das questões que coloca. Primeiro, a Europa atual se encontra tão esvaziada e colonizada pelos valores do individualismo e do sistema econômico que praticamente não se reconhece mais o seu charme e aquele cultivo de si que sempre os distinguiu (a não ser em alguns redutos temporais coloridos, como é o caso da família interiorana nas imediações de Toulouse). Somos, basicamente, uma comunidade mundial de consumidores amortecidos, dividos por fatias de mercado. Segundo, as camêras digitais dos turistas se coisificam a ponto de adquirirem vida própria, independente de quem as aciona. Terceiro, as tecnologias da informação dinamitaram as estruturas e as formas de expressão que antigamente se encontravam claramente separadas (rádio, jornal, televisão, etc.). todas essas mídias foram sugadas pela rede. Os objetos que os transmitiam se tornaram obsoletos. Umas das consequências disso é que a excessiva produção de informação confunde os sentidos e os juízos de valor.

25 novembro, 2010

Missão cumprida

Ontem, 24 de novembro de 2010, se tornou um dia histórico para mim: foi quando participei da última aula na última cadeira de Licenciatura em Ciências Sociais. Agora é esperar pelo ritual de colação de grau, dia 9 de janeiro de 2011. Estou iluminado!

20 novembro, 2010

A miopia da "opinião pública"

Faço três apontamentos acerca da polêmica causada pela malograda opinião de Luiz Carlos Prates, da TV RBS de Santa Catarina, sobre os acidentes de trânsito.

Primeiro: a infelicidade do comentário reflete um contexto muito mais amplo da grande imprensa brasileira: um generalizado despreparo (técnico e intelectual) para abordar temas que exigem pensamento interdisciplinar e complexo. Para além de “crucificar” o comentário raivoso e anti-republicano do jornalista, é preciso criar espaços na mídia para que atores sociais intervenham na esfera pública com o objetivo de esclarecer e mostrar soluções para problemas públicos. O que conta na mídia, em diversos casos, não é o mérito, mas o prestígio social do(a) jornalista. Um caso recente desse despreparo é o programa Roda Viva (vide entrevista com José Dirceu), que perdeu completamente a credibilidade, ao convidar, entre outros igualmente despreparados, uma jornalista especializada na vida íntima das celebridades para ser a apresentadora. Kennedy Alencar, por exemplo, é um nome mais indicado para ocupar essa cadeira.

Segundo: a ironia dos adeptos do liberalismo econômico. É facilmente identificável os (pequenos) interesses de classe que expressam a opinião fragmentada dos formadores de opinião da grande mídia. A repercussão de repúdio que assistimos se deve a enorme diferenciação social que ocorreu no capitalismo pós-guerra. Especialmente, a magnitude da ampliação dos setores médios, que torna mais complexa a oposição inicial entre capitalistas e proletários. O que vimos, portanto, foi um conflito interno à própria classe média, cada vez mais numerosa e ambígua. Formadores de opinião, insisto, precisam ter visão de conjuntura.

Historicamente, os ideólogos da direita sempre foram favoráveis a auto-regulamentação da sociedade pelo mercado, ou seja, que o Estado anule, a qualquer custo, a cobrança de impostos prejudiciais a livre circulação de mercadorias. Ora, o que se espera dos defensores da não intervenção estatal no mercado é coerência. E com isso não estou também defendendo o governo. O referido opiniático pertence a uma classe alta que está hierarquicamente abaixo dos grandes capitalistas. Para esses, a ampliação do consumo de automóveis é benéfica (e para os trabalhadores das fábricas também, mesmo que por um prazo determinado, até que o mercado se reestruture novamente).

Terceiro: nesse sentido, o problema dos automóveis no espaço urbano existe, sim. Porém, é incorreto dizer que os acidentes e mortes no trânsito decorrem desse fato extremamente recente (a ampliação do crédito e a redução dos impostos dos automóveis e eletrodomésticos em geral). O jornalista se precipitou, pois precisaria provar empiricamente comparando variáveis de renda, escolaridade e acidentes de trânsito. A indústria automobilística e o “sonho" do carro próprio irão enfrentar barreiras intransponíveis em curto prazo, que só o investimento e a modernização do transporte público poderão resolver. Por isso, discordo tanto de Luiz Carlos Prates quanto de quem se considera otimista com a expansão do acesso ao automóvel (não vamos nos enganar, pois o automóvel continua sendo restrito a uma minoria). Não pelo direito, em si, de cada cidadão ter seu automóvel, mas pelas conseqüências concretas desse para a coletividade, seja motorista ou pedestre.

23 março, 2010

Análise da conjuntura política-social no Brasil

O sociólogo Rudá Ricci mapeou algumas tendências societárias no Brasil atual. Reproduzo aqui algumas de suas colocações em entrevista recente a uma rádio mineira, por motivos apenas de valor sociológico, pois é um estudioso que tem experiência vivida do que está falando, não tendo apenas conhecimento livresco:

1ª Estamos vivenciando a maior crise interna que o PSDB já sofreu, desde sua fundação. Provavelmente, se José Serra perder a eleição, Aécio Neves irá despontar como a principal liderança desse partido.

2ª Teoricamente, Dilma Roussef faz parte do bloco lulista. Mas ela não tem o perfil de uma pessoa que se deixa ser conduzida como marionete. Ela vem das águas do PDT gaúcho, brizolista e centralizador. Pode, no futuro, oferecer problemas para o próprio Lula. Irá, pelo menos, criar algum tipo de resistência a liderança absoluta de Lula.

3ª Qual é a equipe que Dilma está montando? O da primeira gestão do governo Lula: José Dirceu, Fernando Pimentel, etc. Pessoas que não se construíram politicamente como ela, no PT, a partir da mobilização de massas. Ao contrário de Lula, que se forjou nas lutas sociais. Então esse "staff" não tem a ver com as lutas sociais, com ONG's, lideranças da Igreja Católica ligada a Teologia da Libertação. Dilma deverá cristalizar a mudança no perfil de projeto político no PT. Antes eram lideranças de base e, hoje, são técnicos da política.

4ª Segundo Rudá, com a vitória de Dilma, ocorrerá um confronto interno entre o lulismo e o PT. Dilma operaria uma transição mais forte em prol dos setores técnico-burocráticos do partido.
Isso em razão de representar um clássico modelo de esquerda governar como era no antigo "Partidão" (PCB). Esse modelo é centralizador, meramente técnico, que negocia diretamente com atores políticos que interferem na agenda nacional.

5ª O lugar da política, que nos anos 80, se lutava para que fosse também nos bairros e nos locais de trabalho, acabam. Essa era dos movimentos sociais termina de uma vez, não importa quem vença a eleição. Os trabalhadores e as donas de casa voltam para suas casas e locais de trabalho. Um dos motivos para isso está no fato da relação de proximidade do presidente com a população. O lulismo se antecipa ao desejo e estabelece uma relação de tutela.

6ª A estrutura colossal do governo lulista: O lulismo se apoia em três grandes vertentes.
O primeiro bloco diz respeito ao PAC e a consequente aproximação com o grande capital brasileiro. 90% das multinacionais brasileiras recebem financiamento do BNDS.
O segundo bloco está no diálogo direto com os setores mais pobres da população e com a nova classe média, através do crédito consignado, aumento do salário mínimo e do bolsa família (e cotas).
O terceiro bloco é formado junto aos demais partidos. O atual governo montou uma estrutura de coalisão presidencialista. Os demais partidos perderam a independência e não apresentam nenhuma alternativa como projeto nacional.

7ª O DEM praticamente não existe mais como partido e oposição.

8ª Existe uma descrença da população em relação as instituições. Os movimentos sociais precisam recuperar a autonomia. As redes sociais, grande parte dos movimentos sociais e ONG's se partidarizaram e viraram base de campanha eleitoral, mesmo esses não os representando de forma participativa. Já vi debates na internet que são totalmente pautados como se fossem partidas de futebol.

9ª Existe 30 mil conselhos (saúde, educação, etc.) no país. Estão absolutamente desarticulados pois não pautam as reuniões com o governo.

10ª O conservadorismo da sociedade civil: em recente livro chamado "A classe média brasileira", organizado por Bolivar Lamounier e Amaury de Souza, é apresentado os dados de que 63% dos membros da classe D e E nunca participaram de organização social, já na classe C esse mesmo indicador fica com 56%. A família é o único agrupamento social confiável (80%). Nem amigos aparecem como confiáveis (40%). Segundo a pesquisa, a única instituição citada como digna de confiança é a igreja (66%). Depois, a televisão (26%).

11ª Por fim, sua tese é de que o brasileiro não é solidário, porque é desconfiado e se isola na família. Uma outra pesquisa revelou que, apesar da maioria se declarar contra o aborto, confessam a existência de pelo menos um caso de aborto na família.

18 março, 2010

Poesia do dia

Um poema não me sai da cabeça nas últimas semanas. O curioso é que eu decorei ele faz alguns anos e não saberia dizer em que livro ele está, apenas que foi escrito por Paulo Leminski, a quem devo dizer que sou fã de carteirinha (vide o outro poema da "lucha de classes"). Ele é mais ou menos assim:

Dois namorados olhando o céu
chegam a mesma conclusão
Mesmo que a Terra
não passe da próxima guerra
Mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu...

06 dezembro, 2009

Desencantamento futebolístico

Vendo hoje as terríveis cenas de violência em Curitiba (provocadas pelo rebaixamento da equipe local) lembrei de um ensinamento do sociólogo Zander Navarro. Disse ele certa vez que o futebol, em nosso país, é apenas o palco onde se condensam as contradições sociais e se manifestam os descontentamentos populares por outras razões que não o esporte em si mesmo. Isso não só na derrota, mas também na vitória, quando os outros temas da vida social se resolvem temporariamente. Os temas que envolvem esse tipo de comportamento são os seguintes: trabalho, política, educação, moradia, etc.
A leitura apresentada é muito similar à definição de Sérgio Buarque de Holanda sobre o "homem cordial". A cordialidade se refere à dificuldade do brasileiro de lidar com questões sociais ou políticas de modo racional, de considerar a esfera pública como algo impessoal. A cordialidade é um traço brasileiro de formar sua visão de mundo com base na paixão, logo em uma subjetividade fatalmente egocêntrica e egoísta.
O futebol atualmente se organiza de modo racional, como uma empresa moderna. E como qualquer empresa, há interesses em jogo, principalmente fora do campo de futebol.

05 outubro, 2009

Axel Honneth em Porto Alegre

Vinte anos depois da vinda de Jurgen Habermas à cidade, Porto Alegre recebeu mais um brilhante filósofo: Axel Honneth.
Nascido em Essen (Alemanha), em 1949, tornou-se professor de filosofia na Universidade J. W. Goethe em Frankfurt em 1996 e desde 2001 é diretor do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt (ou, mais conhecidamente, a "Escola de Frankfurt"). Seus escritos concentram-se na área da filosofia social, política e moral, formando um ambicioso programa de pesquisa voltado tanto para a explicação teórica quanto para a compreensão crítico-normativa das relações de poder, reconhecimento e respeito nas sociedades capitalistas modernas.
Nos dias 29 e 30 de setembro e 1º de outubro de 2009 foi realizado o "IV Simpósio Internacional sobre a Justiça", organizado pela PUCRS e pelo Goethe-Institut Porto Alegre. Eu estive por lá e quero registrar, aqui, alguns pontos importantes das palestras.
Foram três dias do mais profícuo debate intelectual. Nos dois primeiros dias, foram realizadas leituras por Honneth seguidas de debates com interlocutores. O que mais agradou o público, creio eu, foi o diálogo do segundo dia, entre o professor Honneth e Hans-Georg flickinger. Isso inclusive obrigou o primeiro a reconsiderar alguns pontos inprecisos da "Teoria do Reconhecimento". Honneth resgata o conceito de "luta por reconhecimento" do jovem Hegel. O propósito da teoria é dar conta da "gramática" dos conflitos e da "lógica" das mudanças sociais, tendo o objetivo mais amplo de explicar a "evolução moral" da sociedade.
No artigo de Denilson Luis Werle, publicado na revista "Mente, Cérebro & Filosofia", nº 8, temos uma clara explicação sobre os fundamentos da "luta por reconhecimento". Diz Werle que "baseado em Hegel, Honneth identifica três dimensões do reconhecimento distintas, mas interligadas. A primeira consiste nas relações primárias baseadas no amor e na amizade, e diz respeito à esfera emotiva, em que é permitido ao indivído desenvolver uma confiança em si mesmo que é indispensável para seus projetos de auto-realização pessoal. A segunda dimensão consiste nas relações jurídicas baseadas em "direitos". Trata-se da esfera jurídico-moral, em que a pessoa é reconhecida como autônoma e moralmente imputável e desenvolve sentimentos de auto-respeito. A terceira e última dimensão é aquela que concerne à comunidade de valores baseada na "solidariedade social". Honneth está pensando na esfera da estima social, na qual os projetos de auto-realização pessoal podem ser objeto de respeito solidário numa comunidade de valores" (Pg. 55).
Apesar de entender pouco sobre as teorias tratadas na ocasião, alguns meandros acerca da teoria do reconhecimento foram esclarecidos. Ela permite, por exemplo, identificar conflitos sociais em nível pré-linguístico, ou seja, aqueles ainda não expressos racionalmente.
Duas ideias eu considerei importantes para, quando for possível, pesquisar. Em Hegel, o capítulo sobre a "sociedade burguesa" do livro Filosofia do Direito, pois aí temos a descrição do que se entende atualmente por "esfera privada". A outra referência está em Durkheim que forneceu a chave para descortinar a "infraestrutura moral" da sociedade através da análise de práticas punitivas. Ou seja, o que a sociedade condena através de sanções.
O terceiro dia foi mais suave. Respondeu a questões mais pessoais (como o sentimento de ocupar a cadeira que foi de Horkheimer, Adorno e Habermas e sua predileção por Bob Dylan). Sem entrar nos pormenores das críticas dirigidas aos seus antecessores e também das heranças apropriadas e transmitidas, acho importante destacar o seu distanciamento com relação ao conceito de "negatividade". Para ele, a teologia expressa na negatividade se devia muito ao fato de Horkheimer e Adorno serem judeus, oriundos de famílias tradicionais, etc.
Acredito que um dos segredos para a Escola de Frankfurt se manter viva e criativa se deve à prática incessante da crítica interna e do diálogo construtivo com outras tendências teóricas. Admitir que as teorias são imperfeitas, embora mais que necessárias.
Entendi a necessidade de multiplicarmos por mil a compreensão que fazemos da vida social. Como? Aprimorando conceitos, rejeitando teorias simplistas e dialogando abertamente com os outros, mesmo quando não haja concordância.

25 setembro, 2009

Desastre Socioambiental

"A explosão de uma loja que vendia fogos de artifício e brinquedos, localizada em uma rua repleta de casas e pequenos comércios em Santo André (Grande SP), matou duas pessoas, feriu outras 15 e destruiu quatro casas. O local ficou devastado -outras 30 casas foram evacuadas e a rua ficou encoberta por destroços, sujeira e uma fumaça espessa" (Folha de São Paulo. Ano 89, Nº 29.395, 25/09/2009).

O jornalismo registra os fatos. Árdua tarefa para o Sociólogo acompanhar e, mais ainda, desvendar o significado oculto dos fatos cotidianos. Por isso teorizamos: para ressignificar o que, pela repetição, se torna banal, corriqueiro, destituído de importância.
As explosões em Santo André não podem ser tratadas como simples "acidente". É o diagnóstico das atividades humanas quando, essas, geram consequências imprevistas pela simples racionalidade econômica.
Dito de outra forma: a complexidade do meio ambiente é reduzida apenas no seu valor econômico em detrimento dos demais valores (social, cultural, político e ambiental). O problema é que os prejuízos cobrem todas essas esferas (ou campos) incluindo o econômico.
O pior é que tal perversidade não contribui para o amadurecimento da sociedade se ficar preso a descrição dos fatos. Essas pessoas não podem contestar algo que não seja o dono do estabelecimento, já que o pensamento responsável pelo desastre é algo internalizado na cultura e nos hábitos individuais e coletivos, por isso se repetem, mesmo que de outra formas.
Outros dois fatores se relacionam com os já mencionados (que por motivo de tempo serão apenas citados): a necessidade de descentralização como medida para conter o "inchaço urbano", apontado por Ignacy Sachs no seu livro "Rumo à Ecossocioeconomia", e a pobreza que leva, necessariamente, a um grande contingente de pessoas conviverem com riscos industriais ou estruturais.
Acredito que ao invés de "acidente" devemos rotular o acontecimento de "desastre socioambiental". Levamos em conta, com base nos grandes pensadores do nosso tempo, a complexidade dos saberes que se preocupam com a vida e com a justiça social.

10 setembro, 2009

Sobre o método

Hoje eu quero postar uma breve reflexão sobre o método na Ciência.
Como conhecemos algo? Que o erro pode nos ensinar?
Uma resposta definitiva não existe. Caminho para a direção de que o método define a maneira como vemos o mundo.
A universidade, por exemplo, foi construída a partir de uma visão de mundo.
Ao chegar na Universidade, hoje, reparei que até o chão onde caminhamos nos dá a sensação de segurança, de solidez, que reflete a posição do sujeito frente ao conhecimento tal como é praticado nessa instituição.
O chão é coberto por concreto, em forma de quadrados, o que remete à ideia de "sistema cartesiano" idealizado por Descartes. Ao olharmos para o chão, a imagem influencia.
Foi um certo filósofo da Ciência, chamado Karl Popper, que disse: "Toda ciência repousa sob areia movediça". Mesmo assim, o empenho científico fornece a maior parte da informação digna sobre o mundo.
É preciso abertura para dialogar com as diferentes teorias. Assim podemos ver o que permanece e o que é transitório na sociedade.

27 agosto, 2009

O que tanto encomoda nesse "desenvolvimento sustentável"?

O reitor da UFRGS, eleito em 2008, na esteira do apoio político do PT gaúcho, retribuiu o favor com sobras na noite do dia 27 de agosto, em Porto Alegre.
Constatei uma certeza, construída com zelo e reflexão, mas que se tornou gritante nesse momento: a UFRGS perdeu completamente sua autonomia (claro que nem de longe o curso de Ciências Sociais algum dia tivera, na sua engenharia, pretensões frankfurtianas).
O marxista István Mészáros veio, hoje, á Porto Alegre, defender um discurso pífio sobre a crise econômica internacional. Nem de perto demonstrou a erudição presente no grande livro "A Teoria da Alienação em Marx", que estou lendo para uma cadeira de Economia.
A palestra ocorreu no Salão de Festas da Reitoria da Universidade. Como numa armação, seu enfoque privilegiou um tema que definitivamente se mostrou não ser de sua especialidade: a crise ecológica. Disse, conforme o tradutor simultâneo, que "não haverá revolução verde, sem primeiro a revolução vermelha" (seguido de aplausos do grande público). Ora, preciso dizer que ele veio com o intuito de conter o "efeito Marina Silva"?! Com toda a clareza foi um discurso arquitetado visando manter um setor da militância potencialmente desertor do PT. Posso estar enganado? Essa é a minha opinião, embora não tenha citado ela em seu discurso, o mesmo não ocorreu quanto citou o presidente Lula e o programa de "combate à fome". Achei estranho que ele não utilizou, uma única vez, o termo "sustentável" que faz parte do jargão político da Marina. Defendeu, por diversas vezes, um nebuloso desenvolvimento "responsável".
A palestra faz parte de uma série de outras que ele está fazendo nas Universidades Federais. Fico imaginando a repercussão política disso, aqui, e em outras universidades. É preocupante a estrutura corporativa de alguns segmentos da sociedade! No fim de tudo, aquele senhor bem trajado, mais pareceia estar mantendo interesses políticos do status quo, que por sua vez são sustentados por interesses econômicos e que, novamente, sustentam toda a estrutura ideológica do Estado.

23 agosto, 2009

Vitória do melhor argumento em Porto Alegre

Com ampla maioria (18.212 votos), o "não" venceu, hoje, a consulta pública sobre o Pontal do Estaleiro. A consulta decidiu que, no Pontal do Estaleiro (localizado na orla do Guaíba), não poderão ser construídas edificações residenciais, somente comerciais.
Um fato que merece destaque foi a cobrança de passagens pelas empresas de transporte público em pleno dia de votação. A participação minoritária (22.574 de votos) se deve também a esse verdadeiro impedimento para um dia de domingo, quando a tarifa é integral para todos. Por isso, chamo a atenção para que as próximas consultas sejam aperfeiçoadas dando continuidade ao processo de participação política.
No jornal de domingo constava uma carta com os argumentos do "não" e outra com os do "sim".
Analisei os dois com a pressuposição da possibilidade de ambos teriam conteúdos verdadeiros desde seu ponto-de-vista e interesses distintos.
O primeiro, escrito por Paulo Guarnieri, fez um balanço ambiental, social e econômico da situação, privilegiando a incorporação de todos interesses envolvidos, inclusive os econômicos. O segundo, escrito por Filipe Wels, se deteve apenas a contradizer as informações do primeiro, acusando o adversário de "ideológico", "doutrinário" e "irracional". Seu apelo principal era o progresso da cidade! Ora, como nos ensina o filósofo Habermas, ao denunciar a lógica do debate hostil, "a fim de, em geral, poder verificar a enunciação de outra pessoa quanto à sua verdade, correção normativa e autenticidade, em primeiro lugar precisam ser aceitas precisamente estas pretensões de verdade, precisa ser aceita a racionalidade do oponente. O exame de suas enunciações pode, entretanto, ter um resultado negativo".
Um discurso ancorado na hostilidade estaria fadado a recusa democrática.
O nível de informação e princípios adotados pelos representantes do "não" demonstra que os valores e interesses puramente econômicos são estranhos aos princípios democráticos. Podemos retomar novamente ao filósofo Jürgen Habermas. A democracia deliberativa envolve além dos recursos dinheiro e poder, o terceiro recurso que é a solidariedade formada comunicativamente.
Após o resultado, um acesso de fúria e autoritarismo chegou a tal ponto que um jornalista da capital, defensor e ideólogo da posição, não derrotada, mas rechaçada, disse em seu blog que "Ecologistas xiitas fundamentalistas guascas vencem referendo em Porto Alegre". Logo em seguida, talvez por algum resto de equilíbrio, ou por crítica recebida, substituiu a mensagem por uma crítica precipitada ao pouco comparecimento às urnas. Digo que foi precipitada, pois não observou a informação referida acima sobre a cobrança de passagens.
A dicotomia política de esquerda e direita ainda nos diz muito, especialmente em torno do sistema político, tais como mídia, esfera pública e interessados da sociedade civil em geral.
Compartilho com Habermas uma confiança nos procedimentos democráticos e comunicativos para deter a colonização do mundo da vida pelo sistema econômico. Vitória da esfera pública e do melhor argumento!

20 agosto, 2009

O ambientalismo no Brasil vive um novo momento

Já faz algum tempo que eu percebo o aumento de capital político da ex-ministra e senadora Marina Silva, que ontem se desligou formalmente do PT. José Eli da Veiga, em artigo intitulado "Escolha entre a peste e a cólera" publicado no jornal Folha de São Paulo (19/04/2009), acertou em cheio. Quem, de fora dos bastidores da política, acreditaria em algo tão inesperado?!
Naquela altura do jogo em que a sucessão presidencial já parecia definida entre Dilma e Serra, Eli da Veiga indicava que "duas lideranças políticas poderiam apresentar uma plataforma realmente progressista aos eleitores: o deputado Fernando Gabeira e a senadora Marina Silva. Mas não conseguiriam alcançar o segundo turno por causa do viés antirrenovador das regras eleitorais sobre o uso dos meios de comunicação de massa. Assim, será muito melhor para a sociedade brasileira que eles garantam trincheiras no Senado ou em governos estaduais, em vez de irem para o sacrifício em candidatura presidencial".
Duas questões políticas se colocam como salutares, uma na ordem política e outra de ordem mais econômica: na "Folha" de hoje destaco a impressionante notícia de que o PV ofereceu a senadora Marina Silva 10 das 21 cadeiras da comissão que fixará a política do partido em nível nacional. Aprovou ainda a intervenção nos diretórios estaduais que não sigam as diretrizes do partido. Ou seja, podemos deduzir que o Partido Verde se encontra em situação de extrema debilidade interna.

17 agosto, 2009

Haikai de Paulo Leminski (não lembra 1968?)

En la lucha de clases
Todas las armas son buenas
Piedras
Moches
Poemas

07 julho, 2009

Falecimento de Robert McNamara

A vida tem dessas coincidências inexplicáveis. Na última sexta-feira, dia 3 de junho, meu professor de Economia perguntou para a turma quem conhecia Robert McNamara. Dois levantaram a mão!

McNamara foi uma espécie de Magaiver dos Estados Unidos. Pertencia ao grupo dos "Whiz Kids", um conjunto de universitários brilhantes que trabalhou no Pentágono durante a Segunda Guerra Mundial. Segundo o professor Luiz Miranda, foi o personagem importante no cerco montado contra os japoneses. Depois foi contratado pela Ford onde se tornou presidente. Ele inventou, por exemplo, o encosto de cabeça (ou desnucador) dos automóveis. Depois, foi Secretário de Defesa nos governos Kennedy e Johnson, e um artífice central na guerra do Vietnã e na invasão à Baía dos Porcos em Cuba (dois fracassos notáveis na História estadunidense). Por fim, foi presidente do Banco Mundial num longo período, de 1968 até 1981.

Ontem, segunda-feira, estava no ônibus com a minha namorada e lembrei de McNamara, em função do encosto. Contei para ela brevemente a história dele. E não é que hoje de manhã eu me deparo com a notícia da morte do homem?! Faleceu aos 93 anos de idade.
Ou foi coincidência ou o nós, humanos, realmente temos a capacidade de sentir frequências vindas de outras partes do mundo. Não seria a boa e velha intuição?

27 junho, 2009

O pensamento teológico no meu imaginário

A descoberta de uma dúvida quanto a existência de Deus aconteceu quando eu ainda era muito pequeno. Deveria ter 7 ou 8 anos, no máximo. Por aquela época, minha família mantinha uma freqüência constante de idas à Igreja; eu ia junto e rezava.
Num certo dia eu olhava na televisão o programa Globo repórter cujo assunto não lembro claramente. O locutor dizia o nome de dez cientistas – com as suas respectivas fotografias – que não acreditavam em Deus. A partir daí, me botava então a perguntar, em pensamento, se aquele signo de um ser divino, mas com características de uma pessoa normal, pudesse realmente existir, influenciando as nossas vidas. Foi nesse momento em que aqueles costumes todos pareciam perder a serventia para mim.
Meu olhar se voltava, assim, com revés para aquilo e meus pais continuavam a dizer para rezar porque era bom. Na verdade, fui-me afastando progressivamente da moral cristã até que uma concepção de crença estava sendo formada em minha mente. Algo que fugia de uma visão única, de uma sensação de impotência para a realidade. Parti em busca de uma percepção do mundo que discordava em aceitar as coisas como eram dadas.

15 junho, 2009

Poucas frases dizem tanto...

"Economia de tempo, a isso toda a economia em última instância se reduz". Karl Marx

07 junho, 2009

Desafiando as estruturas

Na partida final do torneio Roland Garros, hoje, aconteceu um daqueles famosos "incidentes" que consiste na invasão da quadra por algum torcedor mais "empolgado".
No endereço de notícias onde eu capturei a foto dizia "após se aproximar do tenista (suíço Roger Federer) o invasor saiu correndo pela quadra sob muitas vaias da torcida francesa. Só após se aproximar da rede, o fã foi derrubado por um dos seguranças. A plateia aplaudiu a ação".
O destaque merece atenção e requer explicação sociológica: o mundo social é previamente definido por normalidades que orientam os nossos modos de pensar e agir. Ou seja, geralmente as pessoas se comportam significativamente voltadas para o comportamento de outros, como diria Max Weber. É o caso do público de tênis que obedece quase que mecanicamente uns aos outros.
Percebe-se que o sujeito transgressor ignora o constrangimento causado pelo público, sob forma de vaias. A coerção social se encontra aí de forma bastante nítida quando, não adiantando a reprovação sonora da maioria, restou o uso da força física para corrigir o desvio. Qualquer semelhança com Durkheim não é mera coincidência. Ponto para o sociólogo francês!
Posteriormente, um conterrâneo de Durkheim, Pierre Bourdieu, aprimorou com maestria as nuances desse fênomeno. Ele mesmo fez uma anologia entre o seu conceito de habitus e uma partida de tênis, ampliando o escopo da análise para outros espaços sociais (política, cultura, economia, religião, etc.). Diz ele que "o habitus como sentido do jogo é o jogo social incorporado, transformado em natureza. Nada é simultaneamente mais livre e mais coagido do que a ação de um bom jogador. Ele fica naturalmente no lugar em que a bola vai cair, como se a bola o comandasse, mas, desse modo, ele comanda a bola".

Pirâmide do Sistema Capitalista


A imagem reproduzida acima ajuda a ilustrar a diferenciação social no sistema capitalista (ou a teoria da luta de classes). Necessitaria, porém, de uma explicação mais aprofundada se quiséssemos compreender os mecanismos sociais que geram a desigualdade na sociedade contemporânea. A mera transposição de uma época passada para a nossa acarreta um grave empobrecimento analítico pois supõe, simplesmente, que a História pouco ou nada mudou. Qualquer discordância dessa leitura, portanto, não mereceria qualquer atenção, o que revela claramente o conservadorismo dos que repetem tal fórmula.
Em virtude das vestimentas e dos autores representados, típicos do século XIX, me fez lembrar como chamávamos, no colégio, esse período histórico: a Belle Époque.

05 junho, 2009

Home - Nosso Planeta, Nossa Casa

Hoje, 5 de junho, é o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Fui ao cinema assistir com a minha namorada a estreia mundial do documentário "Home - Nosso Planeta, Nossa Casa", do diretor Yann Arthus-Bertrand. Gostei! As tomadas aéreas são emocionantes, repletas de mistério.
Acima de tudo, o filme carrega um profundo sentimento de altruísmo. A mensagem é direta: a vida necessita de equilíbrio para perdurar. Um processo extremamente lento e complexo desencadeou o mundo como o conhecemos.
Nesse momento a nossa e muitas outras espécies encontraram situação favorável para a sobrevivência. O homem criou a agricultura e passou a depender dela para sua expansão. Mas foi com o surgimento do petróleo que a humanidade alterou profundamente tudo em sua volta. A modernização que fascina é a mesma que assusta por sua imponência. Começa então a crítica ao consumo excessivo da carne, ao uso de pesticidas nas lavouras, a dependência do petróleo, ao uso do automóvel individual (900 milhões no mundo), a pesca predatória, a pobreza extrema e etc. Um filme para se ver com pessoas de coragem, que acreditem na razão e na moderação como alternativa para o século XXI.

Confira o endereço do filme abaixo, vale a pena:

http://www.home2009.com.br/


04 junho, 2009

Sociologia e Meio Ambiente

"A economia não paira no ar; ela está inscrita na materialidade".
Carlos Walter Porto - Gonçalves

Em 2007 eu realizei uma disciplina na Universidade sobre "Sociologia e Meio Ambiente". Lembro que, durante seis meses, minhas atenções estavam todas para esse campo. Realmente li um calhamaço de textos e estudos. Terminei a disciplina com a convicção de que minha mente havia mudado. Também passei a me sentir "autorizado" para abordar o assunto quando necessário. Lembro que nós, estudantes comprometidos com aquela disciplina, nos sentimos um pouco órfãos quando ela terminou.
Descobri que um indivíduo informado e ético para com o meio-ambiente não significa que ele haja passado por um ritual forçado ao vegetarianismo, nem a imediata adesão a filosofias orientais. O que importa é assumirmos a nossa “pegada ecológica” no planeta e, assim, refletirmos quais as atitudes individuais que poderão fazer a diferença.
De fato, na política, o movimento ambiental abrange todo o universo em que se divide o pensamento e as ações políticas. Encontramos agentes representando desde as correntes mais sectárias – os adeptos da chamada “ecologia profunda” - até as mais abertas e disponíveis para o diálogo (essa ala forma a maioria, e defende basicamente o “Desenvolvimento Sustentável”). Claro que nesse contexto surgem, a todo o momento, os eco-aproveitadores e os eco-carreiristas de plantão. A ecologia torna-se um sucesso, um vendedor de si mesmo.
Existem vários modos de justificar esta mudança radical de posição (em particular do homem ocidental) diante da natureza, por efeito da qual passamos da consideração da natureza como objeto de mero domínio à idéia da natureza como sujeito de utilização não mais arbitrariamente ilimitada. Mas o ponto de vista mais pragmático e urgente na atualidade é aquele que leva em conta o possível esgotamento dos recursos escassos e, assim, o fim da civilização humana.
Vemos também, desde a 2ª Guerra Mundial (e suas bombas atômicas), o desmoronamento da idéia de progresso. Uma série de efeitos colaterais despercebidos da produção industrial não poderia mais ser apontado como um “problema ambiental”, mas sim como uma crise institucional profunda da própria sociedade industrial. Com isso, passamos a viver, no entender de Ulrich Beck, numa sociedade de risco. As ciências atuando de forma decisiva em nosso cotidiano, alterando nossas idéias e questionando as antigas tradições que a modernidade havia tentado consolidar.
Conceitos como "sustentabilidade", "entropia", "adaptação" tecnológica e cultural estão no centro dos debates científicos internacionais. O que está em jogo é continuarmos com o verificável padrão insustentável de produção e consumo (e confiar que as descobertas científicas resolvam todos os problemas), ou canalizar energias para um modelo de sociedade (ainda não formulado) pautado na racionalidade dos recursos materiais e humanos e que leve em conta valores como respeito mútuo, preservação da vida, felicidade e dignidade humana.

31 maio, 2009

Há 20 anos Porto Alegre recebia uma lenda!

Em reportagem recente no Jornal do Comércio intitulada "Instituto Goethe se destaca como referência no mundo das artes" pasmei em saber que Jürgen Habermas esteve em Porto Alegre no ano de 1989. Uma mistura de nostalgia e orgulho bairrista tomou conta de mim. Mas pô, eu só tinha três primaveras naquela época. Pretendo pesquisar isso no próprio instituto para contar o que ele disse na ocasião. A notícia diz que a visita "virou lenda" interna no "Goethe". Reinhard Sauer (atual diretor) contou que "o filósofo fez duas conferências, ficou irritado por causa da tradução simultânea de praxe e quis que ela fosse abolida em sua outra palestra, mesmo que, em conseqüência disso, tivesse apenas meia dúzia de gatos pingados na plateia. Mas isso não aconteceu, porque o auditório lotou novamente".

24 abril, 2009

Entrevista com Fernando Meligeni

No dia 28 de março, o Fininho, fera do tênis brasileiro, esteve na cidade. Fui atrás dele conseguir uma matéria para ir ao ar no programa "Teorema - Ipanema, FM", pilotado por Marcelo Noah.
De quebra, foi a minha estreia nesse tipo de atividade. A seguir, a entrevista com fotos tiradas pelo Noah:

Fernando Nogueira - Estou aqui, na Associação Leopoldina Juvenil, ao lado do tenista Fernando Meligeni – o Fininho – para falar sobre o livroAqui Tem! Vitórias e Memórias de Fernando Meligeni com André Kfouri”, lançado pela Ediouro em 2008.

Fernando, fale um pouco do livro para os ouvintes do programaTeorema” da rádio Ipanema FM.

FERNANDO MELIGENI – É um livro de histórias. A gente tentou fazer algo diferente do que é normalmente uma autobiografia. Eu conto histórias do circuito, que eu vivenciei dentro, os bastidores... Então tem o Pan-americano, as Olimpíadas, Roland Garros, a Copa Davis e nisso eu tento trazer o público mais próximo do que é o circuito profissional, do que é a verdade do vestiário de um campeonato de tênis.

EU Tu fala no código de ética, não é?

F. M.Como qualquer esporte, você precisa saber até onde pode ir. O código do que é permitido ou não é uma linha muito tênue, muito próxima, e quando você está num esporte onde tem tantas coisas em jogo (dinheiro, fama e repercussão) é difícil você saber o que é certo e o que é errado. Tem um capítulo do livro que é “Eu nunca fui santo” e eu conto sobre coisas que eu vivi, que eu errei, passei dos limites ou fizeram comigo. Eu quero desmistificar a idéia de que o tênis é um esporte onde todos se comportam como umLorde inglês”. Não! É muito pelo contrário: no meu blog eu escrevo muito isso.


EU – Essa é a parte onde rola muita polêmica, não é? Você ofereceu uma palestra a pouco para os pais de jovens tenistas para tentar conscientizar eles sobre verdades nem sempre agradáveis sobre o tênis. Percebi que você busca isso: trazer um pouco de lucidez e coerência aos que desejam ter filhos tenistas no futuro.

F. M. Eu gosto da polêmica! No momento em que você é verdadeiro, no momento em que você fala o que pensa com irreverência, você está dentro da polêmica. Eu escrevo de uma maneira mais polêmica, na hora que você vai fazer uma palestra aos pais, precisa colocar coisas polêmicas no jogo. Eu adoro fazer as pessoas pensarem! Não gosto de viver na mentira! Eu aprendi isso com meu pai, deixem que as pessoas julguem, “a unanimidade é burra!”. Você nunca vai conseguir ser unânime no que quiser fazer. Você nunca será o melhor repórter do mundo com todo mundo falando bem, como também nem todos vão falar mal do seu trabalho. No tênis é a mesma coisa, na medicina também... Então, eu não tenho medo do polêmico, de ser julgado e criticado. Agora, se criticar, tem que criticar bem, porque eu vou bater-boca.

EU – Tem alguma histórica que tu poderia ter colocado no livro e, por algum motivo, deixou de fora?

F. M.Com certeza! Se eu quisesse fazer o “Aqui Tem! – 2” teriam mil histórias de bastidores. Teve pessoas que ficaram melindradas por causa da maneira que eu escrevi, pessoas que não gostaram de ter sido citadas no livro. Logicamente eu poderia ter sido muito mais duro em algumas coisas, e muito mais suave em outras coisas, mas fui o que eu sou. Em nenhum momento eu pensei: “disso eu não vou falar”. Desde que haja responsabilidade sobre as coisas que se fala.

Noah – Falando das quadras públicas de tênis... Como está a situação pelo Brasil afora? Nós estamos aqui num clube de elite, mas tem as quadras públicas que ficam aqui perto. Como tu percebe o tênis para o povo e o fato de tu e o Guga terem chamado a atenção da mídia num determinado momento e ampliado o escopo do esporte?

F. M.Eu acho que, infelizmente, no Brasil, cada vez se menos quadras públicas e cada vez se o tênis mais forte. Cada vez mais gente jogando tênis. Eu fico impressionado: eu tenho um blog na Internet que entram mais de 10.000 pessoas por dia. E a dimensão desse blog é mínima para o tamanho do tênis. A gente é o país do futebol, infelizmente, e isso não vai acabar nunca. Mas eu acho que a gente merecia um pouco mais de espaço, um pouco mais de respeito ao nosso esporte. Hoje tem muita gente que joga tênis e os números que divulgam são totalmente irreais.

Em Porto Alegre, se você pesquisar a quantidade de gente que joga tênis, seja uma vez por semana ou por mês, mas que tem uma raquete em casa, os números se foram verdadeiros são gigantescos. Não são esses números ridículos que colocam “Ah! Deve ter umas 1.500 pessoas que praticam tênis em Porto Alegre”. Em São Paulo é a mesma coisa. A desculpa para não ter uma quadra de tênis no “Parcão” ou no parque Ibirapuera em São Paulo é porque pouca gente joga. Então, infelizmente, o tênis briga contra esportes gigantescos que é o basquete, o vôlei e o futebol. Nós não conseguimos conquistar esse espaço na “Era Guga, Meligeni e Oncins”.

EU Fino, muito obrigado pela participação! Para terminar, pode pedir uma música?

F. M. – Vamos de “Maná”, com Lábios compartidos.

08 abril, 2009

O país e a propriedade intelectual

O jornal Correio do Povo de hoje, dia 8 de abril de 2009, página 3, publicou uma reportagem sobre propriedade intelectual:
"O Brasil está listado em 68º lugar entre os países que respeitam o direito à propriedade material e intelectual, de um total de 115 nações que representam 96% do PIB no mundo. (...) A liderança no índice é ocupada pela Finlândia, seguida pela Dinamarca e pela Nova Zelândia. O vice-presidente do Instituto Liberal, Ricardo Santos Gomes, atribui essa redução da classificação brasileira - no ano passado o país ficou em 65º lugar - à falta de controle da corrupção, à burocracia no registro da propriedade e à ausência de proteção material e intelectual".
No início do curso de Ciências Sociais, eu não levava muito a sério quando tinha que mostrar as referências. Depois eu aprendi que citar autores e idéias é sinal de respeito com os demais colegas de profissão, pois permite prosseguimento nos debates e transparência. Além de facilitar a organização do que estudamos, dos conceitos de cada autor, as diversas correntes teóricas, etc.

A Constância

É comum a sensação de desorientação quando avançamos pelo estudo científico. Especialmente, quando se trata das Ciências Sociais e as dificuldades inerentes desse campo tão diversificado.
Ao folhear um livro do Cláudio de Moura Castro, chamado "A Prática da Pesquisa", encontrei uma espécie de guia para jovens cientistas... Mas serve para quem quiser!
Me refiro a "Carta aos Jovens", do russo Ivan Pavlov, que diz o seguinte:
"O que eu desejaria aos jovens de minha Pátria, consagrados à ciência?
Antes de tudo - constância. Nunca posso falar sem emoção sobre essa importante condição para o trabalho científico. Desde o início de seus trabalhos habituem-se a uma rigorosa constância na acumulação do conhecimento. Nunca acreditem no que se segue sem assimilar o que vem antes. Nunca tentem dissimular sua falta de conhecimento, ainda que com suposições e hipóteses audaciosas.
Acostumem-se à discrição e à paciência. Aprendam o trabalho árduo da ciência. Estudem, comparem, acumulem fatos.
Em segundo lugar, sejam modestos. Nunca pensem que sabem tudo. E não se tenham em alta conta; possam ter sempre a coragem de dizer: sou ignorante (Comentário meu: parte muito semelhante a sentença socrática "só sei que nada sei").
Em terceiro lugar, a paixão. Lembrem-se de que a Ciência exige que as pessoas se dediquem a ela durante a vida inteira. E se tivessem duas vidas, ainda assim não seria suficiente. A Ciência demanda dos indivíduos grande tensão e forte paixão. Sejam apaixonados por sua ciência e por suas pesquisas".

02 abril, 2009

Abertura

Aqui começa o "Outra Busca".
Uma busca que nasce da necessidade de expressão, numa sociedade de pessoas que vão e vem, que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases.
Para não cair no pólo oposto, do discurso interminável sobre nada específico, penso em postar mensagens curtas.
Uma idéia foi amadurecendo em mim. Querer democratizar as minhas opiniões e publicar resenhas de livros. Trata-se de modernizar uma sistemática de documentação e de estudo. Meu campo de atuação é a Sociologia, e sei das dificuldades de encontrar material de qualidade, devido a grande dispersão e dos diversos interesses (alguns válidos, outros questionáveis) que o conhecimento sociológico se reveste. Mas isso é assunto para outra ocasião.
Hoje é um dia importante!
Quero agradecer ao Noah pelo incentivo de fundar o blog.
Tudo tem o seu tempo certo, vamos em frente!